26 agosto 2010

Ser Bombeiro (LL'

Desejava que pudesses ver a tristeza de um homem de negócios quando o


trabalho da sua vida desaparece em chamas ou uma

família que regressa a casa

e encontrar a sua casa e os seus pertences

danificados ou destruídos.

Desejava que pudesses saber o que é procurar num

quarto a arder por crianças

presas... As chamas por cima da tua cabeça, as

palmas das mãos e os joelhos

a queimaram enq



uanto tu rastejas... O chão a ranger com o teu peso, enquanto





a cozinha arde por baixo de ti.

Desejava que pudesses compreender o horror de uma

esposa quando às 3 da

manhã verifica que o marido não tem pulso...

Inicio o S.B.V. (suporte básico

de vida) no mesmo, esperando uma hipótese muito

remota de trazê-lo de

volta... Sabendo instintivamente que era tarde

demais... Mas querendo que a

família soubesse que tudo o que era possível foi

feito.

Desejava que pudesses saber o cheiro único de uma

queimadura, o gosto da

saliva com sabor a fuligem... Sentir o intenso

calor que passa através do

equipamento, o som dos estalos das chamas, a

sensação de não conseguir ver

absolutamente nada através do fumo denso...

Sensações que se tornaram muito

familiares para mim...

Desejava que pudesses compreender como nos

sentimos ao ir para o trabalho de

manhã após passarmos a maior parte da noite suando

com o calor de diversas

chamadas de fogo...

Desejava que pudesses ler o meu pensamento quando

respondo a uma chamada

para um edifício a arder, "Será falso alarme

ou um enorme incêndio? Como

será a construção do edifício? Que perigos esperam

por mim? Estará alguém lá

dentro ou saíram todos?"

Ou para uma chamada de socorro, "o que se

passará com o doente? Será

que a pessoa que telefonou está mesmo em

apuros ou estará à minha espera com uma

arma?".

Desejava que pudesses estar na sala de reanimação

quando o médico decide

anunciar a morte da linda menina de cinco anos que

tenho tentado salvar

durante os 25 minutos anteriores, e que nunca irá

ter o seu primeiro

namorado, nem nunca mais irá dizer "gosto

muito de ti, mãe"...

Desejava que pudesses saber a frustração que sinto

na cabina do autotanque,

o motorista com o acelerador a fundo, o meu braço

a tocar a sirene vezes sem

conta quando não se consegue passar por um

cruzamento ou no meio do

transito. Quando vocês precisam de nós, no

entanto, o primeiro comentário

quando chegamos será "levaram muito tempo

para cá chegar".

Desejava que pudesses ler os meus pensamentos

enquanto ajudo a retirar os

restos de uma jovem do seu veiculo contorcido,

"e se fosse a minha irmã, a

minha namorada ou alguma amiga? Qual será a

reacção dos seus pais quando

abrirem a porta e verem os policias?"

Desejava que pudesses saber como é entrar em casa

e cumprimentar a família

não tendo coragem para lhes dizer que quase não

voltei da ultima chamada.

Desejava que pudesses sentir os meus sentimentos

quando as pessoas

verbalmente, e às vezes fisicamente, nos maltratam

ou subestimam o que

fazemos, ou quando têm a atitude "isto nunca

me aconteceria".

Desejava que pudesses perceber a instabilidade

mental, emocional e física de

refeições perdidas, sonos perdidos e a falta de

actividades sociais associadas todas as tragédias que os meus olhos já

viram.

Desejava que pudesses saber a irmandade que existe

e a satisfação de ajudar

a salvar uma vida, a preservar as coisas de

alguém, a estar "lá" nos

tempos de crise ou a criar ordem quando

existe um caos total.

Desejava que pudesses compreender como nos

sentimos quando temos uma criança

a puxar-nos o braço e a perguntar "a minha

mãe está bem?" sem sequer conseguir olhar nos seus olhos sem deixar

cair umas lágrimas e sem saber o que responder. Ou ter de segurar um amigo

de longa data enquanto o seu companheiro vai na ambulância a receber

respiração boca-a-boca. Sabendo de antemão que ele não trazia o cinto de

segurança posto.

Sensações que me ficaram muito familiares...

A menos que tenha vivido este tipo de vida, nunca

conseguirás entender

verdadeiramente ou apreciar QUEM EU SOU, O QUE NÓS

SOMOS OU O QUE O NOSSO

TRABALHO SIGNIFICA REALMENTE PARA NÓS

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